sábado, 2 de maio de 2009

Dinheiro não é riqueza

Algo realmente me incomoda nesses analistas econômicos de hoje: o fetiche que eles têm pelo dinheiro. Falam que se o governo americano não ajudar os bancos, instituições financeiras e empresas em dificuldade, a economia vai entrar numa espiral econômica descendente, pois vai haver menos consumo e com menos consumo as indústrias param de contratar, aumentando o desemprego, que vai puxar a economia para baixo novamente e assim em diante.

Só que esses “analistas” não sabem que dinheiro não é riqueza. Riqueza é abundância de bens desejáveis. Se alguém produz algo que não possui valor de mercado superior aos insumos e tempo alocado, essa pessoa destruiu riqueza, além de perder o próprio tempo e insumos. E você pode produzir algo que tinha valor na época que você começou, mas que ao fim não possui valor superior aos insumos (p.ex.: máquina de escrever).

Ninguém deseja dinheiro como pedaço de papel (salvo colecionadores). Pessoas desejam bens, serviços; não dinheiro diretamente. Dinheiro é só um mecanismo de troca. Dinheiro pode valer riqueza, mas não é riqueza propriamente dita.

Quando dizemos que uma pessoa está pobre, queremos dizer que ela não tem bens para atender a certas necessidades básicas; e não que ela não tem dinheiro. Por exemplo, se uma comunidade sobrevive à base de escambos, ela pode perfeitamente ser rica, a despeito da existência de qualquer meio de troca. Portanto, dinheiro não tem uma ligação direta com riqueza. As pessoas são ricas porque têm bens e serviços, não porque têm dinheiro. Essa confusão advém do fato de que na sociedade contemporânea praticamente tudo que pode ser trocado, é trocado por dinheiro.

Então quando o governo anuncia que vai injetar dinheiro na economia, ele não está injetando riquezas, está injetando pedaços de papéis com fotos de ex-presidentes. Nada mais que isso.

Só que ao fazer isso, ele está roubando a população. Sim, roubando. Imagine que você comprou 1% das ações de uma empresa. Ela lhe garantiu que você é 1% dono dela. Agora vamos dizer, hipoteticamente, considerando possível, que ela resolveu dobrar o número de todas as ações dela e não lhe deu nenhuma. Você agora é 0,5% dona dela. Em outras palavras, você foi roubado.

Com o dinheiro do governo é a mesma coisa. Se você tem 100 dólares, você tem, na teoria, direito a até uma fração X de milionésimo de todos os bens e serviços à venda em dólares. Isso é o que o dinheiro representa. Mas se o governo colocou mais dinheiro na economia, sua fração diminuiu, e você foi roubado. Basicamente, você deu duro para conseguir aqueles dólares e o roubaram depois. Uma parte do seu trabalho foi em vão.

Só que se você perde uma fração do seu dinheiro, alguém a ganha. E advinha quem? Os bancos, instituições financeiras e empresas que fizeram toda sorte de investimentos errados e gastos irresponsáveis e todos os outros que foram enganados pelo dinheiro injetado a mais. Como assim?

As pessoas têm preferências, temporais ou não. As áreas que mais recebem dinheiro são aquelas preferidas pelas pessoas para o uso do dinheiro, seja ele induzido pelo momento e condição financeira ou não. Dessa forma, as áreas menos preteridas começam a dar pouco lucro ou nenhum, ou mesmo prejuízos. E o que os empresários dessas áreas ou os novos fazem em vista disso? Mudam para áreas onde há maior possibilidade de lucro. Só que se essas áreas enchem de novos empresários, pela concorrência o preço baixa e há uma tendência de nova mudança de ares por parte de alguns empresários, a procura de áreas mais lucrativas. E a economia assim vai seguindo seu rumo.

Mas quando o governo resolve colocar dinheiro na economia, ele escolhe onde colocar. Vamos dizer que ele resolva dar dinheiro para o setor têxtil para alavancar as vendas que andam um pouco em baixa. Se as vendas andavam em baixa, era sinal de que as pessoas estavam com preferência temporal para outros setores. Em suma, elas estavam preferindo dar dinheiro para outras áreas, porque, digamos, não achavam necessário comprar mais roupas, e estavam tentando atender a outras necessidades.

Com a injeção de dinheiro no setor por parte do governo, as empresas passaram a poder vender mais barato e continuar mantendo o lucro. As pessoas, em vista às novas promoções, resolvem adiar a compra de roupas para a próxima estação, porque o preço com certeza voltaria a subir. Então elas deixam de atender a outras necessidades para economizar agora na compra de um bem essencial.

E agora se ouvem gritos de agradecimentos seguidos de aplausos para o governo: “O governo salvou o setor têxtil! Viva!”.

Mas, peço um momento. E os outros setores que andavam em alta, como ficaram? Sem verbas. Pessoas que antes teriam roupas e, digamos, computadores novos, celulares, luminárias etc., agora têm muitas roupas – preferiram se prevenir contra o aumento de preços da próxima estação.

Alguns poderiam argumentar que a compra dos computadores, celulares e luminárias foi adiada para a próxima estação. Mas com a queda das vendas na atual estação, muitas empresas fecharão as portas e a concorrência passará a ser menor – muitas, com certeza, se mudarão para o setor têxtil. Com isso, a partir da próxima estação, os preços dos outros setores aumentarão, enquanto o preço do setor têxtil continuará em baixa, mas dessa vez sem ajuda do governo.

Ou seja, muitos empresários foram induzidos pelo governo a fazerem investimentos errados. E o governo, espertalhão como sempre, vem com a solução mágica: resolve ajudar todos os setores em dificuldade, tirando dinheiro da população e dando para eles. Bom, quem quiser saber o resto da história, basta voltar alguns parágrafos.

Perceba, então, que o governo não está criando riqueza para salvar a economia, ele está deslocando parte de seu dinheiro – merecido dinheiro – pra banqueiro não perder o Porsche cromado na garagem.

E qual a justificativa que dão? “As empresas precisam de ajuda para não demitirem.” Ou seja, eles dão dinheiro para as empresas para que elas repassem parte para o povo. Mas de onde veio o dinheiro? Do povo. O mesmo povo que ficou mais pobre para ajudar essas empresas.