sábado, 25 de outubro de 2008

As vantagens do comércio internacional

Mais um texto da série "Escritos do Passado". Este é de julho de 2007.

Um dos mitos pouco questionados em economia é o de que exportar é bom e importar é ruim. Para introduzir o tema, vamos a um exemplo bem simples: o interesse de um padeiro ao realizar suas vendas.

O que motiva um padeiro a tentar vender ao máximo seus produtos? A busca pelo lucro. E lucro para quê? Para comprar mais bens e/ou serviços, claro. Ou seja, ele tenta vender ao máximo para poder comprar ao máximo depois. A melhor forma que ele pode encontrar de aproveitar ao máximo seus recursos é comprar o mesmo tanto que vender, porém tentando vender o mais caro possível e comprar o mais barato possível, para dessa forma poder comprar mais vendendo menos.

Ora, se ele quiser consumir mais que do vender, não terá como pagar suas dívidas, e se ele não quiser consumir e não só consumo imediato, também poupança para gastos futuros tudo o que ganhou, então para que trabalharia para ganhar esse excedente? Não faria o menor sentido trabalhar para não consumir depois. Seria o mesmo que queimar dinheiro.

Uma lógica bem simples, inquestionável até. Mas quando tratamos de países, as pessoas normalmente invertem as coisas. Querem que o país venda ao máximo e compre o mínimo possível, para ter uma balança comercial “favorável”. Se transferirmos a lógica do padeiro para cá, vemos que não faz o menor sentido ter a balança comercial “favorável”, estaríamos enviando nossas riquezas para o exterior sem receber nenhum bem em troca, somente “pedaços de papel”. É literalmente jogar produtos ao mar. Se não queremos nada do exterior, para quê vamos mandar nossas riquezas para fora? Esses “pedaços de papel” não têm exatamente a finalidade de troca? Com o protecionismo, o dinheiro perde sua função de troca, já que deixa de consumir bens de fora. Então, se não vamos trazer nada de fora, não precisamos desses “papéis”, podemos produzi-los aqui mesmo.

Podemos perceber as vantagens do comércio internacional na seguinte fórmula: Y = X.(X-1)/2, onde X é o número de países, e Y o número total de interações possíveis. Por exemplo, se o número total de países é 20, o número de interações possíveis é 190. Se um país se fecha, o número total de interações possíveis passa a ser 171. Se mais um se fecha, agora seriam possíveis somente 153. Diminuindo muito as possibilidades de troca, o que é uma grande perda.

Mas aí alguém pode argumentar que nem todas as interações são boas, o que nos resta duas observações:

1) Se o número de interações boas antes era Z, quer dizer que com o fechamento de um país, no máximo Z interações serão boas, o que não aumenta os benefícios, no máximo restringe possibilidades de interações ruins.

2) Y representa as possibilidades, ou seja, poderiam haver 190 interações, o que não quer dizer que todas ocorram. Algum órgão – no caso dos não-anarquistas, o governo – deve cuidar para que as interações ruins, ou seja, com coerção, não aconteçam. Dessa forma, em tese, teremos só interações boas.

Mas os empregos do país não ficariam comprometidos? Vamos analisar: um país quando abre seu comércio, dá a seus habitantes a possibilidade de comprar produtos melhores e mais baratos. Dessa forma, o poder de compra do consumidor aumenta, já que agora terá que abrir mão de menos dinheiro para obter uma mesma cesta de bens. Com a economia feita para obter os mesmos bens de antes, o consumidor poderá agora gastar mais em outros setores e/ou poupar, aquecendo a economia nos mesmos. Com esse aumento da demanda sentida pelas indústrias, estas terão que comprar mais insumos e terão de contratar mais pessoas para atenderem aos pedidos, aumentando o nível de emprego no país. Então a resposta para a pergunta do início do parágrafo é: no curto prazo sim, no longo prazo geraria mais empregos.

No curto prazo, com a vinda de indústrias de fora, muitos dos setores pouco competitivos da economia perderiam espaço e faliriam. Mas, no longo prazo, com a economia feita pelos consumidores, voltaria a gerar muitos empregos em vários setores.

Quais são os efeitos do protecionismo para um país? Cabe ao consumidor escolher o melhor produto. O governo ao subsidiar a produção, tira dinheiro da população para fazê-la pagar mais caro por um produto pior, ou seja, a população é roubada duas vezes. Isso não me parece nada bom.

Ao “protegerem” (eufemismo para explorarem) os seus mercados, os países se fecham um pouco mais para as importações, para terem uma balança comercial “favorável”. Ao fazerem isso, pecam duas vezes. A primeira é a de praticamente forçar sua população a consumir produtos piores. A segunda é a de ir totalmente contra a lógica que foi apresentada no início do artigo, a do padeiro. Se vende muito para também comprar muito. Não faz sentido vender para não comprar. Nossa vantagem no comércio internacional é aquilo que importamos, pois agregamos mais bens ao país, ou invés de mandar alguns para fora.

Talvez agora alguns concordem comigo, mas ainda estejam pensando que essa vantagem só seria válida se todos os países se abrissem. Ora, se o Brasil se abrisse completamente e o restante dos países se fechassem um pouco mais, isso ajudaria o Brasil a melhorar sua posição perante os outros países.

Explico: o Brasil seria o único país do mundo a ter contato com todas as tecnologias de forma rápida já que acabaria com a burocracia no setor e barata. Seríamos os mais aptos a ter os melhores parques tecnológicos. Poderíamos oferecer o que há de melhor no mundo para nossos consumidores. E com mais contato com diversos produtos, seríamos os mais aptos a desenvolvermos também os melhores produtos, ganhando mercado externo, mesmo que agora mais fechado. Enquanto os outros países estariam fadados a consumirem somente aquilo que produzem, e aquilo que outros produzem, porém mais caros.

Claro que todos sairiam perdendo, já que com os países sem dividirem suas tecnologias iriam desenvolver menos seus produtos basta imaginar as fábricas dos EUA sem ter contato com os produtos japoneses.

Qual a vantagem para as indústrias? Possibilidade de contato com melhores tecnologias antes apenas um sonho distante e caro , e conseqüentemente uma melhoria no maquinário, que gerará mais lucros, alavancando a economia. Quem não se lembra da lei de informática no Brasil? Essa lei, que visava proteger as indústrias locais da concorrência de exterior, foi a responsável pelo atraso brasileiro não só na área de informática, mas em muitas outras. Um computador similar chegava a custar cerca de 5 vezes mais aqui dentro do que lá fora. Seria impossível imaginar empresas hoje sem computadores. Nosso mercado foi “protegido” (explorado) justamente na época em que houve uma grande revolução no setor, fazendo com que nossas indústrias ficassem bastante atrasadas em relação às indústrias de fora. Sem ter contato com o que há de melhor em tecnologia, não tem como competirmos lá fora, deixando de exportar e, conseqüentemente, importar.

E por que, mesmo com a Lei de Informática, nossas indústrias do setor não se desenvolveram? Temos duas respostas principais para isso: a primeira é a já citada falta de contato com as tecnologias de ponta, e a segunda é a falta de competitividade. Se não há competição, não há incentivo para a inovação. Não há razão para alguém se esforçar ao máximo para inovar se não sofre grande concorrência. Esses motivos, somados à outras possíveis limitações impostas pelas barreiras comerciais, foram responsáveis por nosso grande atraso no setor de informática e em vários outros dependentes de computadores bem hoje indispensável.

Outra coisa que o leitor deve estar se perguntando é se grandes tecnologias não tenderiam a diminuir o nível de emprego aqui dentro, já que são poupadoras de mão-de-obra. Vejamos: as máquinas custam menos para as fábricas do que humanos e ainda fazem o serviço mais rápido, logo, garantem mais lucro para os donos. Sendo assim, esse maior lucro não vai ficar parado, tendo em vista que o capitalista que empregou seu dinheiro em tal ramo sempre busca cada vez mais lucros; então o lucro excedente vai para o aumento do seu consumo em outra área, que gera mais empregos, ou para outra área em que ele queira investir, que por sua vez também gera mais empregos.

Mas se o capitalista não quiser mais empregar seu dinheiro em nada, não quiser consumir mais nada, estando satisfeito com o que tem? Então ele o irá guardar em bancos, que por sua vez vão lhe pagar uma quantia mensal para que o seu dinheiro fique por lá, e enquanto isso o banco usufrui desse dinheiro e por sua vez investe em alguma área, que acaba gerando mais empregos.

Mesmo se ele guardar esse dinheiro em um colchão, a sociedade não perde nada. Porque se o cara simplesmente tirar o dinheiro de circulação, a utilidade marginal de cada unidade monetária vai subir de qualquer forma e nada vai mudar.

Essa abertura não inibiria os setores locais de se desenvolverem? Muito pelo contrário, forçaria a competição e incentivaria a inovação. Muito argumentam que os produtos externos “devastariam” nossas indústrias, de tal forma a quebrar as existentes e gerar desemprego e miséria. Mas, como dito no início, se não exportamos, não há como comprarmos de fora; então como vamos comprar coisas de tal forma a quebrar as indústrias nacionais sendo que as compras estão limitadas pelas vendas?

Mas ainda temos que acabar um mito: a de que a riqueza é estática. Riqueza é a abundância de produtos desejáveis. Para gerar riqueza é preciso trabalhar em algo que você deseja diretamente ou que os outros desejam, através do mercado. Se uma pessoa trabalha e produz algo que não possui um valor de mercado superior ao valor dos insumos e do tempo alocado, essa pessoa desperdiçou os insumos e seu tempo, e destruiu riqueza.

Às vezes isso envolve um risco empreendedor: você pode ter produzido algo que tinha valor na época que você começou, mas ao terminar não possui valor superior aos insumos.

Muitos argumentam a falácia de que primeiro precisamos crescer e desenvolver para depois abrirmos nosso comércio, e não percebem que nosso atraso se dá justamente por nosso comércio tão fechada e taxado, pelos motivos já supracitados: falta de competitividade, produtos caros, pouco contato com tecnologias de ponta e grandes restrições.

Outra coisa boa que vem de forma lenta e gradual com livre comércio – esta também lenta e gradual – é a diminuição dos impostos, para dar mais competitividade para as empresas nacionais lá fora. O que aumenta o poder de compra da população e também gera mais empregos. Com menos desemprego, sobem os níveis salariais que aumentarão o consumo da população, que poderá, entre outros, gastar mais com saúde e educação, e que novamente diminuirão o desemprego.

Com menos impostos e mais livre comércio, não há empresa que não se sinta atraída a investir no país. O maior desincentivo que se tem ao empreendedorismo é ter que dividir o que se ganha com outros contra a própria vontade efeito causado pelos impostos. Só os baixos impostos seriam um grande atrativo, mas com o livre comércio, a atração se torna ainda maior, pois empresas precisam de insumos para produzirem, e com a ausência de taxas alfandegárias elas podem comprar também muito mais barato que em outros países. Que empresa não gostaria de investir em um país assim? (Aliás, azar de quem não quisesse, perderia em competitividade.)

Então a fórmula para o desenvolvimento não é crescer para abrir e sim abrir para crescer.

Um comentário:

Unknown disse...

Boa tarde,
acho que uma das vantagens de mandar nossos produtos para fora, e em troca receber pedaços de papéis, é que estes "pedaços de papéis" podem movimentar a econômia interna do país, e com ela poderemos produzir não apenas as nossas riquezas, mas também o que iriamos precisar comprar de outros países. Sendo assim nosso país estaria em constante crecimento, e não em apenas uma estagnação de Comprar-consumir-vender.
Gabriela;